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Ídolos da Cultura

Nelson Rodrigues é homenageado com busto

Familiares participam da cerimônia 


O grande dramaturgo e Tricolor ilustre Nelson Rodrigues, que estaria completando 100 anos em 23 de agosto deste ano, foi homenageado pelos torcedores do clube com a inauguração de um busto de bronze próximo à entrada da sede social do Fluminense, na Rua Álvaro Chaves.

Os familiares de Nelson Rodrigues estiveram presentes na cerimônia e ficaram emocionados com a homenagem autorizada por eles.

– A homenagem é um grand finale no ano do centenário do Velho, porque vem da torcida tricolor, a mais doce e iluminada do Brasil e do mundo, já dizia ele. O Fluminense nasceu com essa vocação para a eternidade. Aqui não se dá dois passos sem esbarrar numa glória – disse Nelson Rodrigues Filho, o Nelsinho.

O presidente Peter Siemsen lembrou da ação que financiou o busto e do que o profeta tricolor representa para o clube:

– Fluminense e Nelson Rodrigues são uma coisa só. O Fluminense encarna o espírito do Nelson. A torcida está muito orgulhosa de ter financiado essa história, ainda que pequena pelo que ele representa. Estamos trabalhando cada vez mais para fidelizar o torcedor e essa ação do livro que culminou no busto é um exemplo.




Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987)

O poeta completaria 110 anos amanhã



Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, no interior de Minas Gerais. Formou-se em farmácia, mas em 1934 veio para o Rio de Janeiro acompanhando o amigo Gustavo Capanema, então nomeado ministro da Educação e da Saúde pública no governo de Getúlio Vargas, exercendo a função de chefe de gabinete, cargo que ocupou até 1945, quando torna-se co-editor do Diário comunista "Tribuna Popular", ficando por apenas alguns meses. Em 1946 é nomeado então para trabalhar no Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ocupando a chefia da Seção de História, na Divisão de estudos e Tombamento onde permaneceu até se afastar por tempo de serviço.

O escritor contribuiu desde jovem com diversos jornais e periódicos como cronista e eventualmente como poeta, como Correio da Manhã e Jornal do Brasil.  Já em 1925, com 23 anos, uniu-se a Emílio Moura na publicação de "A Revista", de tendência modernista. 

Em 1930 publicou seu primeiro livro, "Alguma Poesia", com recursos próprios.

Publicou ao longo da vida mais de 45 livros, entre os quais destacam-se:

Poesia:

  • Alguma Poesia (1930)
  • Brejo das Almas (1934)
  • Sentimento do mundo (1940)
  • José (1942)
  • A Rosa do Povo (1945)
  • Claro Enigma (1951)
  • Fazendeiro do ar (1954)
  • Viola de Bolso (1955)
  • Lição de Coisas (1964)
  • Boitempo (1968)
  • A falta que ama (1968)
  • Nudez (1968)
  • As Impurezas do Branco (1973)
  • Menino Antigo (Boitempo II) (1973)
  • A Paixão Medida (1980)
  • Corpo (1984)
  • Amar se aprende amando (1985)

Prosa:

  • Confissões de Minas (1944)
  • Contos de Aprendiz (1951)
  • Passeios na Ilha (1952)
  • Fala, amendoeira (1957)
  • A bolsa & a vida (1962)
  • A minha Voda (1964)
  • Cadeira de balanço (1966)
  • Caminhos de João Brandão (1970)
  • O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso (1972)
  • De notícias & não-notícias faz-se a crônica (1974)
  • Os dias lindos (1977)
  • 70 historinhas (1978)
  • Contos plausíveis (1981)
  • Boca de luar (1984)
  • O observador no escritório (1985)
  • Tempo vida poesia (1986)
  • Moça deitada na grama (1987)

Drummond é considerado um dos mais importantes poetas do século XX, comparado a Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke e T. S. Eliot, e sem dúvida é o poeta mais significativo, com fases que se complementam, existencial, social e amorosa, quando se rende ao sentimento amoroso.

Selecionamos um poema de cada fase:

Os ombros suportam o mundo 


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. 
Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. 
Porque o amor resultou inútil. 
E os olhos não choram. 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho. 
E o coração está seco. 

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. 
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, 
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. 
És todo certeza, já não sabes sofrer. 
E nada esperas de teus amigos. 

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? 
Teus ombros suportam o mundo 
e ele não pesa mais que a mão de uma criança. 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios 
provam apenas que a vida prossegue 
e nem todos se libertaram ainda. 
Alguns, achando bárbaro o espetáculo 
prefeririam (os delicados) morrer. 
Chegou um tempo em que não adianta morrer. 
Chegou um tempo que a vida é uma ordem. 
A vida apenas, sem mistificação.

Livro: Sentimento do mundo, 5ª edição, Editora Record, 2003


A flor e a náusea 


Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas,
consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Livro: A rosa do povo, 2ª edição, Editora Record, 1984


Reconhecimento do Amor


Amiga, como são desnorteantes

os caminhos da amizade.

apareceste para ser o ombro suave

onde se reclina a inquietação do forte

(ou que forte se pensava ingenuamente).

trazia nos olhos pensativos

a bruma da renúncia:

não queria a vida plena,

tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,

não pedia nada,

não reclamavas teu quinhão de luz.

E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.


Descansei em ti meu feixe de desencontros

e de encontros funestos.

Queria talvez – sem o perceber, juro –

sadicamente massacrar-te

sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam

desde a hora do nascimento,

senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História

ou mais longe, desde aquele momento intemporal

em que os seres são apenas hipóteses não formuladas

no caos universal.


Como nos enganamos fugindo ao amor!

Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar

sua espada coruscante, seu formidável

poder de penetrar o sangue e nele imprimir

uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu

em doçura e celestes amavios.

Não queimava, não siderava; sorria.

Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.

feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor

que trazias para mim e que teus dedos confirmavam

ao se juntarem aos meus, na infantil procura do outro,

o outro que eu me supunha, o outro que te imaginava,

quando – por esperteza do amor – senti que éramos um só.


Amiga, amada, amada amiga, assim o amor

dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo

com olhar pervagante e larga ciência das coisas.

Já não deformamos o mundo: nele nos diluímos,

e a pura essência em que nos transmutamos dispensa

alegorias, circunstâncias, referências temporais

imaginações oníricas,

o voo do Pássaro Azul, a aurora boreal,

as chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,

todas as imposturas da razão e da esperiência,

para existir em si e por si,

à revelia de corpos amantes,

pois já nem somos nós, somos o número perfeito:

UM


Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse

à vacuidade de persistir, fixo e solar

e se confessasse jubilosamente vencido

até respirar o júbilo maior da integração.

Agora, amada minha para sempre,

nem olhar temos nem ouvidos de captar

a melodia, a paisagem, a transparência da vida,

perdidos que estamos em nossa concha ultramarina de amar.

Livro: Corpo, 1ª edição, Editora Record, 1985

O Musical e querido Gil 


Gilberto Passos Gil Moreira, ou simplesmente - se é que é possível alguma coisa ligada a ele ser simples - Gilberto Gil nasceu em 26 de junho de 1942, em Salvador, Bahia, portanto, este texto quer modestamente co-memorar a brilhante carreira de um artista que além de sua arte de qualidade inquestionável, é um cidadão que não fugiu aos chamados que teve, às convocações que a vida lhe intimou a tomar parte, fosse como vereador, fosse como ministro, tentando abrir o painel de possibilidades de discutir as formas de acesso à cultura, tanto a popular, que ele tão bem representa, quanto a dita elitizada, que também merece ter seu lugar respeitado, e cada vez mais se aproximar da primeira, pelo instituição do diálogo que enriquece as duas.

Autor de mais de 600 composições distribuídas por 59 discos, Gilberto Gil Iniciou a carreira em 1963, com o disco de vinil "Salvador", mas foi efetivamente a partir de 1967, com o lançamento do disco "Louvação" e da participação destacada em festivais de música popular televisionados, onde a canção-"Domingo no parque" foi uma das mais apreciadas, que ele conquistou a atenção do grande público e da crítica especializada, lançando a partir de então no mínimo um trabalho a cada ano.

Momento marcante foi o movimento "Tropicália", que tomou parte juntamente com Caetano Veloso, parceiro em várias músicas, Tom Zé e Torquato Neto, que se preocupava em abordar temas pertinentes ao Brasil do ponto de vista social e em particular urbano, com um conceito libertador e cuja estética livre se contrapunha diretamente à "Bossa Nova".

Entre tantas canções que caíram no gosto do grande público, destacam-se:

  • "Procissão" (1965)"
  • "Amor até o fim", (1966)
  • "Eu vim da Bahia" (1966)
  • "Panis et circenses" (com Caetano Veloso) (1967)
  • "Domingo no parque" (1967)
  • "Soy loco por ti America" (com Capinam e Torquato Neto) (1967)
  • "Aquele abraço" (1968)
  • "Divino maravilhoso" (com Caetano Veloso) (1968)
  • "Geléia geral" (com Torquato Neto) (1968)
  • "Expresso 2222" (1972)
  • "Oriente" (1972)
  • "Eu só quero um xodó" (1972)
  • "Meio-de-Campo" (1973)
  • "Cálice" (com Chico Buarque) (1973)
  • "Barato total", (1974)
  • "Refazenda" (1974)
  • "Expresso 222" (1975)
  • "Refavela" (1976)
  • "Sítio do Picapau-amarelo" (1976)
  • "Toda menina baiana" (1978)
  • "Marina" (1978)
  • "Se eu quiser falar com Deus" (1980)
  • "Palco" (1980)
  • "Realce" (1980)
  • Super-homem, a canção (1980)
  • "Andar com fé" (1982) 
  • "Vamos fugir" (1983)
  • "Tempo-rei" (1983)
  • "Drão" (1984)
  • "Esotérico" (1984)
  • "A Novidade" - com os Paralamas do Sucesso - (1986)
  • "Parabolicamará" (1990)
  • "Quanta" (1996)

A partir de 1989 Gil começou a atuar na política, desempenhando cargos públicos, inicialmente como vereador em Salvador, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Em março de 1990 filiou-se ao Partido Verde (PV), como membro da Comissão Nacional Executiva.

Em janeiro de 2003, quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva tomou posse, foi convidado para o cargo de ministro da Cultura, permanecendo por cinco anos e meio, deixando o ministério em 2008 para voltar a dedicar-se à sua vida artística.

Gil marcou sua passagem como um ministro que tentou rediscutir os direitos de propriedade intelectual e implementou políticas de mais acesso à Internet.

Cartola, mais um tricolor ilustre, completaria 104 anos este mês

Um gênio da música 


Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1908 e faleceu na mesma cidade em 30 de novembro de 1980; foi  um dos mais talentosos compositores de samba de todos os tempos, um gênio, que era tricolor, fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Dentre suas composições mais conhecidas, estão "As rosas não falam""O mundo é um moinho""Acontece""O sol nascerá" (com Elton Medeiros), "Quem me vê sorrindo" (com Carlos Cachaça), "Cordas de aço""Alvorada" e "Alegria", dentre tantas outras. Abaixo a letra de uma de suas composições mais famosas, "As rosas não falam":


As Rosas Não Falam


Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim



Nelson Rodrigues, o profeta apaixonado

Esporte e cultura em uma só personagem


O jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues nunca escondeu sua paixão pelo tricolor das Laranjeiras, sua total renúncia à razão quando se tratava de Fluminense; este ano Nelson, se estivesse entre nós em carne e osso - por que em espírito ele nunca nos deixará, e não estamos falando de efeitos "Sobrenaturais de Almeida" - completaria cem anos no dia 23 de agosto, mas Nelson era imortal sem nunca sido, autor de tantos livros e peças de teatro impactantes e reveladores do que corre nas veias da alma humana.

Principais obras:

Romances: "Meu destino é pecar" (1944), "Asfalto Selvagem: Engraçadinha, seus pecados e seus amores", "O homem proibido" (1959), 

Peças de teatro: "A mulher sem pecado" (1941), "Vestido de noiva"  (1943), "Álbum de família" (1946), "Os sete gatinhos" (1958), "Bonitinha, mas ordinária" (1962), "Toda nudez será castigada" (1965).

Dentre sua frases sobre o Tricolor, destacam-se:

O Fla-Flu nasceu 15 minutos antes do nada

Eu vos digo que o Fluminense é o melhor time do mundo. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos

Se o Fluminense jogasse no céu, morreria para vê-lo jogar

O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente

O Fluminense é o único time tricolor do mundo. O resto são só times de três cores

Nas situações de rotina, um “pó-de-arroz” pode ficar em casa abanando-se com a Revista do Rádio. Mas quando o Fluminense precisa do número, acontece o suave milagre: os tricolores vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas

Sou tricolor, sempre fui tricolor. Eu diria que já era Fluminense em vidas passadas, muito antes de presente encarnação

Pode-se identificar um tricolor entre milhares, entre milhões. Ele se distingue dos demais por uma irradiação específica e deslumbradora

Grande são os outros, o Fluminense é enorme

O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade. Tudo pode passar, só o tricolor não passará jamais

Em nosso livro "Confissões de um Gigante", a ser lançado brevemente, Nelson faz elogios ao craque Preguinho, aguardem para ler!